é difícil descrever a primeira vez que te senti.
sentir mesmo.
sentir por fora e não por dentro.
sentir como se te colocasse a mão sobre os ombros e tu te voltasses para ver quem é. sentir como quando uma bolha de sabão nos rebenta na mão.
recordo o momento, recordo a hora e o dia.
recordo a mensagem que enviei ao teu pai e lhe contei que já te conseguiria sentir.
deixaste de ser real apenas no ecrã, no ecógrafo ou na minha barriga.
passaste a ser real para quem aguarda a tua chegada sem ter o mesmo privilégio que eu.
dizem que me ouves desde sempre. eu acredito que sim, mesmo que fale contigo apenas mentalmente, mesmo que tenhamos longas conversas sobre os dias que virão sem nunca ninguém nos ouvir uma palavra.
continua a não ser fácil fazer-me ouvir em voz alta. continua a não ser fácil exteriorizar o que se passa cá dentro. continua a não ser fácil fazer com que nos compreendam. continua a não ser fácil colocar em palavras tudo o que se vai sentindo por estes dias.
não sou fã deste estado mas estou a aprender a respeitar os sinais, os momentos e os dias que passam.
reconheço o privilégio e a responsabilidade. reconheço – e agradeço todos os dias – a fortuna destes momentos.
aprendo a esperar, a respeitar o teu, o meu e o nosso tempo.
não conto o tempo que falta… apenas o que já passou com a certeza de tudo estar a fazer para que o que aí vem seja bom, seja único e seja nosso – por inteiro.
ignoro as muitas histórias e confio na natureza e na medicina, confio nas estatísticas e nos sinais. acima de tudo, confio no amor e no carinho de quem te receberá por inteiro.
e isto é o #melhordomeudia, todos os dias, desde o dia em que te tornaste real.